Oficina
Inutilidades essenciais: as coisas da vida.
A realização de imagens, edição e criação de sequências, serão realizadas no Oficina "Inutilidades essenciais - coisas da vida” em 6 encontros. Pretende abordar as relações entre memória/esquecimento, publico/privado na biografia de seus participantes propondo um processo de autorepresentação. O retrato fotográfico é uma categoria que não será utilizada como método de trabalho nessa proposta, a identidade projetada sobre o rosto, cederá lugar à cidade, interior das casas, objetos biográficos de seus participantes . O conceito de pós fotografia proposto por Joan Fontcuberta será uma das fontes de referência para o encaminhamento dos trabalhos.
Os participantes não precisam ter conhecimento prévio de técnica fotográfica. Devem apenas saber operar os equipamentos que pretendem utilizar. Por outro lado, devem desejar mudar a forma de ver seu cotidiano.
Segundo a jornalista Mariana Sgarione em artigo para a revista Vida SImples:
“Os objetos que estão em casa são quase parentes. Eles presenciam nossa história e também guardam nossa memória."
Do que você não se desfaz ? O que acontecerá com esse objeto depois de sua morte ?
O que você fotografa ? Qual tessitura narrativa suas imagens construíram para além da partilha via redes sociais ou prestação de serviço ? Que herança sua produção fotográfica vai gerar ?
Na raiz da palavra inventário reside a idéia de partilha, aquisição de um bem por transferência, herança. Bens antes não reconhecidos como próprios, passam a ser integrantes de um patrimônio pessoal,e, assim sendo, sofrerão um deslocamento em seus significados que poderão variar da relíquia ao descarte, dependendo da decisão de seu novo proprietário, via entre memória e esquecimento.
Porém, a palavra partilha passou por um processo de resignificação depois do uso das redes sociais.
Interessante refletir sobre a o texto de Joan Fotcuberta:
“Outro dos grandes trunfos do mundo paralelo da internet é a plasticidade maleável da identidade. Em tempos imemoriais, a identidade estava sujeita à palavra, o nome caracterizava o indivíduo. A aparição da fotografia deslocou o registro da identidade à imagem, no rosto refletido e inscrito. A arte do disfarce, da maquiagem, não fez nada além de agudizar as técnicas de autenticação biométrica, e para conseguir maior confiabilidade, começam a consolidar-se sistemas de medição de padrões da íris ou provas forenses de DNA. Mas, ao nível do usuário médio, com a pósfotografia, chega a vez de um baile de máscaras especulativo onde todos nós podemos inventar como queremos ser. Pela primeira vez na história, somos donos da nossa aparência e estamos em condições de geri-la como nos convenha. Os retratos, e, sobretudo, os autorretratos, se multiplicam e se colocam na rede, expressando um duplo impulso narcisista e exibicionista que também tende a dissolver a membrana entre o privado e o público.
Nestas fotos (reflectogramas), a vontade lúdica e autoexploratória prevalece sobre a memória. Tomar fotos e mostrá-las nas redes sociais forma parte dos jogos de sedução e dos rituais de comunicação das novas subculturas urbanas posfotográficas, as quais, embora capitaneadas por jovens e adolescentes, deixam poucos à margem. As fotos já não tomam recordações para guardar, mas mensagens para enviar e trocar: se convertem em puros gestos de comunicação, cuja dimensão pandêmica obedece a um amplo espectro de motivações."
Se, de um lado, a plasticidade do conceito de identidade e verdade entram em colapso nesse processo escancarando a sua natureza enquanto construção, de outro, esvazia a vivência da memória.
Essa oficina destina-se portanto, a produtores de imagem em fotografia que busquem tecer histórias e deslocar seus modos de auto -observação e representação para construir um mapeamento de sua paisagem íntima,e, dessa forma, construir memória e um bem a ser partilhado.
Porém, o participante tem o compromisso de não publicar em nenhuma rede social o material produzido, que, uma vez editado, será impresso e deverá ocupar um objeto contendedor escolhido por seu autor no qual o objeto será guardado até limite combinado entre os participantes. As mesmas imagens deverão compor uma mostra física que ocupará espaço a ser determinado durante o processo de trabalho.